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Cinema Roma: um fórum municipal

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O Cinema Roma (atual Fórum Lisboa), localizado na Avenida com o mesmo nome, foi inaugurado a 16 de Março de 1957, depois de um processo moroso e complexo e que viu a luz do dia graças à vontade de um homem, Joaquim Braz Ribeiro Belga.

Este alentejano entrou no negócio da exploração cinematográfica a pouco e pouco, ganhando a confiança de investidores que nele reconheciam integridade, inteligência e força de vontade. Em Lisboa, criou a produtora Doperfilme, através da qual entraram em Portugal muitos filmes europeus. Acoplada à sua produtora, fundou toda uma estrutura composta por várias empresas que, juntas, abrangiam todos os sectores da indústria cinematográfica, desde a distribuição, passando pela exibição em salas. Todas estas empresas constituíram o Grupo Ribeiro Belga, um dos maiores do meio cinematográfico durante muitos anos.

Para além do Cinema Roma, que mandou construir de raiz, em parceria com várias outras entidades, foi responsável pela construção do Estúdio 444, que se situava numa antiga garagem, e pela adaptação do Cinema Aviz, que anteriormente fora o Cinema Palácio.

No auge da guerra colonial, expandiu o seu negócio de cinemas para África, sendo responsável pela construção de vários cinemas em Angola e Moçambique, muitos dos quais existem actualmente.

A actividade de distribuição de Ribeiro Belga foi a primeira a divulgar em Portugal filmes da Nouvelle Vague francesa, de realizadores como Truffaut e Godard, bem como outras fitas provenientes de outros países europeus, conferindo a este Grupo um papel primordial no panorama cinematográfico português.

Joaquim Braz Ribeiro Belga (1913-1972)

O Diário Municipal de 2 de Outubro de 1953, explicitava sobre a alienação de um terreno na Avenida de Roma, destinado à construção de um cinema, teatro ou cinema e teatro. A parcela à venda no local onde iria nascer o futuro Cinema Roma, tinha 1050 m2 de superfície, e confrontava por todos os lados com terrenos que pertenciam à C.M. Lisboa (CML). Este terreno tinha sido expropriado aos herdeiros do Conde de Guarda. A mesma publicação refere que as obras iriam começar em 6 meses e que deveriam estar concluídas em 2 anos.

Vista aérea do terreno (ao centro), onde viria a ser construído o Cinema Roma

O projecto inicial de construção deste cinema, da autoria do Arqtº Lucínio Cruz, previa aliar o aproveitamento do espaço de uma grande plateia dividida por zonas a um terraço para sessões ao ar livre. Havia a preocupação de se fazer uma sala com uma enorme qualidade de projecção, por forma a exibir filmes, em formato panorâmico e cinescópio. Como era um cinema de bairro, não havia a precupação de aplicar materiais ricos, nem grandes pinturas murais ou baixo-relevos. O que importava é que fosse proporcionada ao público uma boa projecção e sonorização, assentos confortáveis, tiragem forçada do ar e sua renovação e a possibilidade das classes mais desfavorecidas poderem ver cinema. Como contemplava a valência do cinema ao ar livre, o projecto incluía uma protecção para o terraço e dois elevadores de acesso ao mesmo, com lotação de 10 pessoas em cada um. As galerias que envolviam parte da sala, destinavam-se a bar e "estacionamento ao público" durante os intervalos.


Contudo, com a aplicação da rigorosa Lei de Protecção ao Teatro, nos finais da década de 1950, houve atraso de anos na construção deste cinema. Apesar de ser amplamente contestada, esta lei levantava constantes problemas na construção de cinemas. Mas Joaquim Braz Ribeiro Belga não esmoreceu perante esta adversidade e enviou um requerimento à CML, expondo os acontecimentos, desde a compra em hasta pública do terreno, até ao primeiro grande problema: o despacho, datado de Julho de 1954, emitido pela Inspecção de Espectáculos em resposta ao pedido de construção do cinema Roma, e onde constava a necessidade de se aguardar pela Lei de Protecção ao Teatro, para se iniciar as obras de construção do mesmo.

Havia uma enorme pressão para construção deste cinema. Em Outubro de 1954, o então Presidente da CML, Álvaro de Salvação Barreto,  junta-se à luta de Joaquim Belga  e envia à Inspecção de Espectáculos um pedido de aceleração de resolução sobre este assunto, visto que a CML já se tinha comprometido com o inicio da obra no prazo de seis meses. Alguns meses depois, durante o ano de 1955, a construção do cinema foi autorizada.

Requerimento da CML à Inspecção de Espectáculos - 1954

Finalmente, o Cinema Roma conseguira vencer as adversidades  e ser construído, embora com algumas alterações ao projecto inicial, nomeadamente: a eliminação do terraço e a supressão dos elevadores, que dariam acesso ao mesmo.

Construção do Cinema Roma - Maio de 1956

Construção do Cinema Roma - Maio de 1956

O Auto da 1ª Vistoria emitido pela Inspecção de Espectáculos, datado de 12 de Março de 1957, autorizava a abertura do cinema para 3 dias depois, referindo que as instalações deste cinema estavam em condições de funcionamento, embora fosse necessário fazer algumas modificações, como: indicações das instalações sanitárias e dos locais para fumadores, bem como outras disposições menores. No mesmo auto, era referenciada a necessidade de reservar lugares cativos na Fila A do Balcão Central para o Governador Civil, Fiscalização da Inspecção de Espectáculos e das Contribuições e Impostos, PSP e GNR.

Fachada do Cinema Roma - 1957

Na época, este cinema distinguia-se dos demais, devido à sua construção na horizontal, prolongando a plateia e desnivelando-a, dando origem a 3 pisos diferentes, o que era pouco usual. 
Os outros dois cinemas geridos por Ribeiro Belga, Avis e Estúdio 444, partilhavam desta característica, de ter balcões apenas como prolongamento desnivelado da plateía. Esta opção, para além de ser económica, permitia uma visão do ecrã mais democrática: todos os lugares da sala eram bons para se ver o filme. Com o desaparecimento destes dois cinemas, o Cinema Roma tornou-se no último testemunho do legado do grupo "Ribeiro Belga".
Outra característica que distinguia este cinema de outros na altura, era o facto deste não sendo um cine-teatro, tinha um palco com dimensões que possibilitavam outras funcionalidades, sem ser a do cinema. É importante referir o trabalho do artista plástico, Manuel Lima, na coordenação do mobiliário, decoração e painéis.

Plateia do Cinema Roma

A grande noite da inauguração deste cinema ocorreu no dia 15 de março de 1957, com a exibição do filme "Contos Romanos", uma despretensiosa comédia italiana. Esta inauguração ficou marcada pela presença da estrela do filme, Silvana Pampanini, recebida à entrada do cinema por aplausos de uma multidão de curiosos, bem como dentro do cinema, onde distribuiu sorrisos e autógrafos (link: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/inauguracao-do-cinema-roma/).

Anúncio Publicitário do filme "Contos Romanos"

Anúncio Publicitário do filme "Contos Romanos"

Silvana Pampanini (ao centro, de vestido escuro) com as arrumadoras na abertura do Cinema Roma

Noite de inauguração do Cinema Roma, a 15.03.1957 (Arquivo RTP)

Os jornais diários da época ilustraram a grandeza do acontecimento, nomeadamente o Diário de Lisboa, de 16 de março de 1957:

Crítica do Diário de Lisboa, 16.03.1957

Quando este cinema abriu portas, contava com 1056 lugares, mais 355 do que a actual capacidade máxima. Foi um grande sucesso entre as pessoas das novas avenidas. Contudo, um dos seus objectivos de "dar cinema às classes menos abastadas" não se cumpriu, porque se tornou num cinema com os seus rituais e público próprios e exigentes.

Planta da plateia - 1954

Equipa de trabalhadores do Cinema Roma - 1957

Anúncio Publicitário de 21 de Fevereiro de 1958

Programa de 1959

Comparativamente com outros cinemas mais luxuosos, era um espaço mais simples, com um ambiente considerado excepcional, por quem o frequentava, ganhando assim uma clientela assídua. Fernando Pessa era um dos clientes mais assíduos deste cinema, tendo inclusive apresentado diversos espectáculos, entre os quais, o da inauguração.

Contudo, os bares eram pequenos e funcionavam à direita de quem entrava no átrio do cinema, no piso térreo e no 1º piso, uma vez que não existia um foyer grande.

Já em pleno funcionamento do cinema, em Abril de 1957, entrou um requerimento para obras de alteração do mesmo na CML. Esse pedido justificou-se com a necessidade de aumentar a área dos foyers reservados ao público, principalmente o foyer esquerdo. Assim, os pilares existentes mantiveram-se, havendo uma deslocação da parede exterior com respectivas portas e janelas, configurando um espaço semelhante, ao que é actualmente o Foyer. O cinema acabou por encerrar para obras em Agosto de 1958, reabrindo a 30 de Outubro do mesmo ano.

Foyer do Cinema Roma, após as obras de alteração - 1958

Em Setembro de 1959, houve mais um requerimento para obras de alteração neste cinema, nomeadamente: a demolição das escadas do Foyer lateral esquerdo, que tinham sido necessárias antes da construção do Foyer, visto que serviam de acesso suplementar à plateia. Como esse acesso fora fechado com a construção do Foyer, as escadas deixavam de fazer sentido. Um ano mais tarde, foram colocadas, no mesmo sítio, vitrinas interiores centrais, que perduram até à actualidade.

Em Agosto de 1964, um Auto de Vistoria da Inspecção de Espectáculos referiu a instalação recente de um novo ecrã, com 16 metros de comprimento por 7,30 metros de altura, que permitia a projecção de filmes em 70 milímetros, bem como a existência de novas máquinas de projecção (Cinemecânicas - Vitoria 8). Este mesmo auto referia igualmente que nos espectáculos pelo sistema Todd AO - 70mm, as quatros primeiras filas, com 110 lugares, deveriam ser interditas, porque não ofereciam condições perfeitas de visibilidade.


Foto de Salvador Almeida Fernandes, Arquivo Fotográfico de Lisboa CML


Anúncio Publicitário de 15.05.1964

Em 1970, o Grupo Ribeiro Belga, Lda. fez um pedido de construção de escritórios na parte superior do Foyer lateral esquerdo, com acessos independentes. O parecer do Conselho Técnico da Direcção dos Serviços de Espectáculos foi favorável à pretensão apresentada, dando origem aos pisos que actualmente abergam os serviços da Assembleia Municipal de Lisboa.

Projecto da Fachada do Cinema Roma - 1970

Estreia do filme "Lotação Esgotada" -17.05.1972

Programa de 1972



Bilhete de 13.01.1974

Programa de 1976

Enquanto as alterações à arquitectura se sucediam, sintomáticas de novas necessidades sentidas, o Cinema Roma ia conquistando cada vez mais o seu lugar na cultura cinematográfica e não só de Lisboa. Ao longo dos anos, muitos eventos se realizaram neste cinema, aliando-se muitas vezes às exibições cinematográficas ou complementando-as. Desde a sua abertura que este cinema esteve destinado a ser palco de inúmeros acontecimentos, não só cinéfilos, mas também recreativos, musicais, políticos, sociais e educativos.

Matiné infantil com a artista Marisol - 1964

Anúncio Publicitário de espectáculo de Elis Regina e Jair Rodrigues - 1966

Congresso do PSD - 1979

Congresso do PSD - 1979

Este cinema contava com um grupo de funcionários alargado. Deste grupo, faziam parte: 16 arrumadoras efectivas, 6 porteiros, 4 bilheteiras (além de mais um elemento para colmatar as folgas), 2 senhoras de toilette (e uma para fazer a folga), 4 projeccionistas, o gerente, o secretário e o fiscal, para além do pessoal da limpeza, que era constituido por uma equipa de 10 a 12 elementos.
Além da qualidade da projecção, importava receber bem os espectadores, com aprumo e profissionalismo. As arrumadoras deste cinema, cujo fardamento era examinado diariamente pelo fiscal antes de se abrirem as portas, eram conhecidas como as mais bem fardadas de Lisboa.

Arrumadoras do Cinema Roma, com Maria Ângela.

Arrumadoras do Cinema Roma - inicio da década de 1970

O Cinema Roma era um cinema de "estreia". Cada sala de cinema de estreia exibia um filme em exclusivo, o que permitia criar a sua própria personalidade cinéfila. No caso deste cinema, eram exibidos principalmente filmes europeus, que eram distríbuidos pela empresas do Grupo Ribeiro Belga.

As filas para a compra dos bilhetes eram enormes, visto que o cinema era um entretenimento de crescente popularidade e adesão. As sessões só ocorriam à tarde (matiné) e à noite (soirée).Os programas era distribuídos, com os dados do filme a ser exibido, bem como uma relação de complementos.

As luzes apagavam-se, os cortinados abriam-se e a sessão começava. Não com o filme propriamente dito, mas sim com um pequeno documentário ou filmagens de locais ou um pequeno filmde de animação. Só depois do primeiro intervalo é que o filme começava, tendo direito ao seu próprio intervalo.


Este cinema também teve os seus fracassos. "Música no Coração", um filme importante na história da exibição cinematográfica em Portugal, estando em cartaz mais de um ano, estreou simultaneamente neste cinema e no Tivoli. No inicio, este filme foi um fracasso em ambos os cinemas. O Cinema Roma substituiu-o rapidamente, mas o Tivoli acedeu em exibi-lo, após insistência do distribuidor. Mesmo em frente ao Tivoli, o cinema São Jorge exibia o filme "Goldfinger", que arrastava multidões ao cinema. Assim, e após o São Jorge lotar, as pessoas que não conseguiam arranjar bilhete, tinham a tendência em atravessar a avenida, rumo ao Tivoli. Palavra puxa palavra, e "Música no Coração" começou a ser um enorme sucesso de bilheteira em Lisboa, o que impossibilitou o Cinema Roma de desfrutar de semelhante experiência.   

É importante ressalvar o fenómeno novo  que nasceu das mudanças lógicas de exibição: as ante-estreias. Estas eram eventos de grande prestígio, onde se usava o tapete vermelho e os convidados eram estritamente seleccionados.

A partir da Revolução de 25 de Abril de 1974, este cinema conheceu alguns dos seus maiores êxitos de exibição, devido ao facto dos filmes anteriormente censurados poderem ser vistos pelo público, sem qualquer restrição. Os que tinham mais adesão eram os filmes eróticos, cujos bilhetes eram vendidos a preços exorbitantes no mercado negro.

Contudo, a abertura ao estrangeiro alterou a lógica cinematográfica de Lisboa, tornando mais dificil a exploração de cinema fora do grupo norte-americano, que conquistara grande parte do mercado em Portugal. A Lusomundo começou a ter uma enorme agressividade comercial, que rapidamente se alastrou para as restantes empresas exibidoras, levando aos poucos aos estrangulamento do mercado. E tanto a exibição, como a distribuição do Grupo Ribeiro Belga começaram a ressentir-se dessa situação.

Como os cinemas deste grupo ficavam afastados do centro de Lisboa, porque eram considerados cinemas de bairro, acabaram por se ressentir da crescente importância da televisão, porque as pessoas começavam a ficar mais em casa.

Sentindo a necessidade de se aliar a uma das empresas dominantes, a empresa detentora deste cinema cedeu uma parte do seu capital à Lusomundo, começando a exibir no final da década de 1970, filmes representados em Portugal pela Lusomundo, em alternância com os filmes distribuidos pelas empresas do Grupo Ribeiro Belga.

O último filme exibido neste cinema foi "Comboio em Fuga" de Andrei Konchalovsky, a 13 de outubro de 1988, com direito a muita emoção e algumas lágrimas.

Este cinema foi desactivado como tal, e, durante vários anos, funcionou como armazém da Lusomundo. Na reunião de Câmara da CML, datada de 27 de dezembro de 1996, foi aprovada a compra deste cinema pela Autarquia. O objetivo desta compra era instalar a Assembleia Municipal de Lisboa no edificio, bem como mantê-lo aberto para eventos culturais, sociais, educativos, políticos e cívicos, considerados de interesse para cidade. A ideia era criar um forum da cidade de Lisboa.

O Fórum Lisboa acabou por ser inaugurado em 1997, com duas cerimónias: uma sessão solene da Assembleia Municipal de Lisboa e um evento cultural, aberto a convidados externos à edilidade.

O Auditório Principal tem capacidade para 701 lugares, e está provido de mobiliário adequado a um plenário, com mesas de apoio rebatíveis e equipado com som, luz, tradução simultânea, projecção em vídeo e cinema. Possui acessibilidade para deficientes, dispondo de duas plataformas elavatória de acesso ao auditório e palco. A versatilidade desta sala é evidente, porque pode ser utilizada como sala de cinema (equipada com projecção em cinema em 35 e 16mm e projecção de vídeo), de conferências e de espectáculos.

Auditório Principal do Forum Lisboa

Além do auditório, existem outros espaços que pontualmente acolhem eventos próprios ou complementam a actividade programada na sala principal. No 1º piso, existe uma sala de apoio, vocacionada para eventos mais restritos, como reuniões, acções de formação e workshops.

O Foyer grande, para além de albergar uma cafetaria, também funciona como espaço aberto para realização de exposições artísticas nas mais diversas áreas, lançamento de novos livros e discos, debates, conferências de imprensa, entre outros.

Cafetaria

Entrada Principal

Em 2003, a gestão deste espaço passou para a EGEAC, juntamente com o Teatro de São Luiz e Teatro Maria Matos, o cinema São Jorge e o Padrão dos Descobrimentos. Em 2005,  voltou a ser da responsabilidade directa da CML.

Fórum Lisboa

Fontes:

https://issuu.com/isabelfiadeiroadvirta/docs/do_roma_ao_forum_50_anos

https://restosdecoleccao.blogspot.com/2016/09/cinema-roma.html

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/inauguracao-do-cinema-roma/

https://ephemerajpp.com/2019/01/19/programas-de-cinemas-de-lisboa-roma/

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/estreia-do-filme-lotacao-esgotada-em-lisboa/

Episódio 9 do podcast "Museu dos Cinemas"

Alfa Triplex - As multi-salas do Areeiro

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De acordo com Margarida Acciaiuoli, no seu livro mítico "Os Cinemas de Lisboa - Um Fenómeno Urbano do Séc. XX", o aparecimento das multi-salas, durante as décadas de 1970 e 1980, visava reunir num só espaço um conjunto significativo de salas, bem como assegurar uma programação diversificada, princípios que estiveram na origem dos centros comerciais.

Este conceito começou a ser posto em prática com o aparecimento do multiplex Quarteto, na Rua Flores de Lima, pela mão de Pedro Bandeira Freire, em Novembro de 1975. Foi possível aos cinéfilos portugueses (e não só) assistirem uma enorme diversidade de filmes de qualidade, que provavelmente não seriam exibidos num qualquer outro cinema de Lisboa, mais voltado para a exibição de filmes comerciais e rentáveis. Este conceito foi adoptado por outros cinemas já existentes, como: o Fórum Picoas, o Cinema Vox (futuro King Triplex) e o Cinema Mundial, que foram reconfigurados em três pequenos estúdios. 

Seguindo este esquema, foi inaugurado a 9 de outubro de 1981, o único estabelecimento dedicado ao cinema no Areeiro: Alfa Triplex. Originalmente começou por ser um triplex com 3 salas, como o nome indicava. Contudo, em pouco tempo, passou a ser um multiplex com 6 salas. Este edificio ficava na Avenida Almirante Gago Coutinho, nº 28, (próximo das atuais bombas da gasolina da BP), e fugia ao modelo das salas "estúdio" dos centros comerciais. Para além das suas 3 salas, com um bom ecrã e dimensões medianas, também possuía um café, uma livraria-papelaria e um salão de jogos, que acompanhava as salas. O seu folheto  da programação inaugural exaltava "(...) uma sóbria e moderna decoração, da maior comodidade e as melhores condições técnicas".





A programação era predominantemente popular, por forma a satisfazer o público estudantil de escolas e colégios, que iam da Avenida de Roma até ao Bairro de Marvila. Os primeiros 3 filmes que por lá estrearam em 1981, foram: "Os Salteadores da Arca Perdida" na Alfa 1, "Condorman" na Alfa 2 e "O Choque de Titãs" na Alfa 3.

A Sala 1, composta por 345 lugares, estava decorada en tons de azul; a Sala 2, composta por 93 lugares, estava decorada em tons de verde e castanho; por fim, a Sala 3, composta por 418 lugares, estava decorada em tons de grená e brique.






Em Outubro de 1984, surgiria a quarta sala: Alfa Club. Esta sala, de dimensão mais reduzida, estava supostamente mais vocacionada para um público elitista, cinéfilo. Em Dezembro de 1986, surgiu a Alfa 4. Em Abril de 1990, surgiu a última sala: Alfa 5, de dimensão muito reduzida, com cerca de 30 lugares e má projecção.

A dificil localização deste cinema, bem como o aparecimento de outros multiplexes em centros comerciais, ditaram o seu encerramento, tendo sido demolido em 1997, dando lugar  a um empreendimento habitacional, de seu nome "Alfa Residence".


Fontes:

- ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012

https://museudoscinemas.wordpress.com/2020/10/19/alfas-triplex-1980-1997-o-multiplex-para-os-mais-jovens/

https://ephemerajpp.com/2018/10/07/programas-de-cinemas-de-lisboa-alfas-triplex/

http://cinemaaoscopos.blogspot.com/2009/12/alfa-1985-1997.html

https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=4021796&Mode=M&Linha=1&Coluna=1

https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=4021798&Mode=M&Linha=1&Coluna=1

https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=4021799&Mode=M&Linha=1&Coluna=1

https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=4021801&Mode=M&Linha=1&Coluna=1

Cinemas do Paraíso: Viseu

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Depois de uma magnifica viagem a Viseu, a cidade-jardim, vou falar-vos dos antigos e actuais cinemas desta bela cidade.

De acordo com o site "Cinema Ícaro", o cinema iniciou-se com o grito de Viriato e acabou com a queda de Ícaro.

A experiência cinematográfica chegou a Viseu em Fevereiro de 1897, onde a primeira sessão de cinema foi exibida no Teatro Boa União (atual Teatro Viriato), pelas mãos do Sr. Luciano. Era um homem dinâmico e empreendedor, possuídor de uma cervejaria mesmo em frente ao teatro, que se designava de "Cervejaria Cinema". Esta projecção ocorreu quatro meses depois de ter sido feita na cidade do Porto.

A origem deste teatro remonta a 1879, quando a "Sociedade Filarmónica Viseense Boa União" resolveu comprar um terreno por um conto e duzentos mil reis. O restante processo desenvolveu-se a muito custo, recorrendo-se ao apoio de alguns proprietários locais, tendo os trabalhos sido suspensos por falta de dinheiro. Apesar das inúmeras dificuldades financeiras, com a necessidade de recorrer ao empréstimos bancários, foi possível concluir a obra.
A sua inauguração ocorreu a 13 de junho de 1883, sendo que o seu programa foi inserido nas Festas da Cidade, como ponto alto da programação. Os espectáculos de estreia foram da responsabilidade da Companhia de Teatro António Pedro.


Em 1898, este edifício ganhou a designação de Teatro Viriato. A partir de 1912, as grandes companhias nacionais e estrangeiras teatrais sairam de cena, para dar lugar ao ecrã do animatógrafo. O cinema ocupa a maior parte dos programas deste teatro, com grande afluência por parte dos viseenses. Em 1914, começa a ser explorado por duas empresas: uma promove os espectáculos cinematográficos e a outra os teatrais. Outras actividades, como o Circo, começam a perder espaço.

Com o aparecimento de outras salas concorrentes, este espaço começou a perder público e encerrou portas em 1960. Durante a década de 1960, chegou a transformar-se num armazém de mercearia.



Em 1985, este teatro volta a abrir as portas, numa tentativa de mostrar o que restava da sala de espectáculos. Por um breve tempo, conseguiu reviver a glória dos seus tempos aúreos, graças ao encenador Ricardo Pais e às sucessivas propostas da Área Urbana - Núcleo de Acção Cultural, para reabilitar a unica sala de teatro de Viseu.

Entre 1986 e 1996, assistiu-se à completa recuperação deste teatro, apesar das inúmeras dificuldades de gestão de obra,  e graças ao intenso e contínuo esforço financeiro da C.M. Viseu, em parceria com outras instituições financiadoras.

A 8 de maio, o novo Teatro Viriato foi inaugurado, albergando o Centro de Artes do Espectáculo de Viseu, estando aberto até à actualidade. É uma sala de espectáculos com cena à italiana: palco fixo central, plateia, camarotes, frisas e regie. Possui 6 pisos e localiza-se no Largo Mouzinho de Albuquerque.










A 17 de Setembro de 1921, seria inaugurado o Avenida Teatro, localizado na mesma rua que o Teatro Viriato. Dispunha de 2000 lugares com 2 andares, camarotes e jardins exteriores, sendo considerado um dos melhores teatros da época. O espectáculo inaugural foi "Entre Giestas", da Companhia Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro. Os espectáculos integrados nas Festas da Cidade de 1926 já se realizavam, exclusivamente, neste teatro. Apesar de exibir espectáculos de taeatro, música e bailado, o cinema é que preenchia a grande parte dos seus cartazes. Contudo, acabou por encerrar em 1961 e foi demolido em 1971.





A partir da década de 1960, Viseu passou a ter somente uma sala de espectáculo ativa, o Cine Rossio. Localizado nas traseiras da Câmara Municipal (na Praça do Rossio), iniciou as suas actividades em Julho de 1952. O filme inaugural foi "O Preço da Juventude" de Réne Clair (1950).
O edifício dispunha de 3 pisos e, dizia-se, tinha sido construído para albergar uma garagem. O piso -1, ao nível do actual Mercado, era um Salão de eventos onde se realizavam os bailes de Finalistas.
No piso 0, situava-se a sala de cinema em anfiteatro, com um palco com boca de cena a toda a largura da sala, mas com uma pequena profundidade de cerca de 2,5 metros, o que era uma grande limitação para outros espectáculos, com uns camarins rudimentares. Possuía 2ª e 1ª Plateias, e ao fundo da sala, um conjunto de 12 Frisas de 6 lugares extensíveis a 8. 
No Piso 1, situava-se o Bar e a Cabine de Projecção. O cinema decorria à 3ª feira, (normalmente com filmes de cowboys ou  de pancadaria), 5ª feira, Sábado e Domingo.


Este espaço recebeu a primeira de muitas sessões do Cine Clube de Viseu (fundado em 1955).

Embora com grandes limitações de área de palco, também se realizaram alguns espectáculos no Salão de Cinema. Por ali passaram, a Escola de Acórdeãos de Mário Costa, Carlos do Carmo, o Conjunto Académico João Paulo, Tonicha, entre outros.

Acompanhando o sucesso crescente da música ligeira da década de 1960, surgiram muitos filmes musicais. E nos Cinemas começou a moda de, aos intervalos da projecção destes filmes, actuarem os novos conjuntos Pop, o que também aconteceu neste espaço, nos anos de 1965 e 1966, onde actuaram diversos grupos musicais, como "Os Tubarões".



Este cinema encerrou em meados de 1983, tendo sido demolido em 1994.


A 22 de novembro de 1982, foi inaugurado o Cinema São Mateus. Localizado na Rua Alexandre Herculano,  foi uma sala moderna para a época, com som, imagem e conforto de qualidade (com capacidade para 276 lugares), tendo sido muito bem recebida pela população da cidade. A qualidade da sala e da programação fizeram do São Mateus uma das mais respeitadas salas de cinema do país. O seu proprietário foi João Figueiredo da Silva.


Contudo, este cinema acabou por encerrar as portas em Agosto de 2005, devido à falta de público e concorrência imposta pelas salas do Fórum Viseu e do Palácio do Gelo. O último filme que exibiu foi "Um Amor em África" de John Boorman.

O Cineclube de Viseu mostrou interesse em este cinema depois do seu encerramento, mas a hipótese era tão dispendiosa, tornando-se praticamente inviável. O espaço foi vendido para património, tendo sido comprado pela Farmácia Oliveira.


O proprietário do Cinema São Mateus inaugurou outra sala de cinema, na mesma rua, com a designação de Cinema Ícaro. Situado nas Galerias com o mesmo nome, foi o primeiro cinema em Viseu a ser integrado num centro comercial. O filme inaugural foi "Quando o Céu e a Terra Mudaram de Lugar" de Oliver Stone. Esta sala podia albergar 172 pessoas.

Infelizmente, este cinema encerrou portas em 2005, meses antes do encerramento do Cinema São Mateus. O último filme que exibiu foi "O Aviador" de Martin Scorsese.

Em Maio de 2018, este cinema recebeu o Desobedoc - Mostra de Cinema Insubmisso durante cinco dias. Neste mesmo ano, um grupo de cidadãos e comerciantes lançou uma petição para a sua reabertura, afirmando a sua relevância para os Viseenses, através de uma nova programação mais direccionada para o cinema independente e alternativo, exibição de clássicos do cinema mundial, realização de festivais, mostras de cinema e criação de eventos de natureza cultural e cinematográfica. Desde então, 1201 pessoas já assinaram esta petição.




Actualmente, Viseu dispõe de dois multiplex geridos pela NOS Audivisuais, em dois centros comerciais: Fórum Viseu com 6 salas e o Palácio de Gelo com 10 salas. A programação nestas salas é comercial, não reflectindo o panorama mundial da produção cinematográfica.




Fontes:
- https://www.teatroviriato.com/
- https://cinemaicaro.pt/historia-dos-cinemas-em-viseu/
- https://porviseu.blogs.sapo.pt/15446.html
- https://cineclubeviseu.pt/O-CINE-CLUBE-DE-VISEU
- https://shifter.sapo.pt/2018/07/cinema-icaro-viseu/
- https://ostubaroesviseu.blogs.sapo.pt/8435.html
- https://ostubaroesviseu.blogs.sapo.pt/7837.html
- http://antonio-rocha.blogspot.com/2008/04/blog-post.html
- https://www.jn.pt/arquivo/2005/cinema-s-mateus-vai-fechar-portas-505920.html
- https://vistacurta.pt/argumento/Argumento22.pdf/*

Cinema do Terço - o cinema como serviço social

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De regresso à cidade do Porto, este texto será dedicado a um cinema que existiu numa instituição dedicada a ajudar jovens carenciados.

O Instituto Profissional do Terço foi fundado em 1891, nas instalações da Irmandade de Nossa Senhora do Terço e Caridade. Assistiram a esta cerimónia, o Rei D. Carlos e a Rainha Dª. Amélia. Na altura um Asilo-Escola, esta instituição associava à instrução a aprendizagem de um ofício, acolhendo assim crianças e jovens que mendigavam pela cidade.

Esta instituição teria diversas instalações, até se instalar definitivamente na Praça Marquês de Pombal, em 1919.


Este imóvel seria adquirido em Maio de 1932, por iniciativa do Director-Interno, Florentino Borges, que conseguiu a quantia de 350 contos para o efeito. Este lucro foi obtido através de quermesses realizadas no Jardim da Praça Marquês de Pombal.

Em 1935, foi inaugurado um pavilhão, anexo ao edificio principal, com cerca de 80 metros de comprimento, onde foram instalados os dormitórios, oficinas, salões de convívio, refeitório e cozinha. Posteriormente, foi instalada uma escola primária frequentada pelas crianças da cidade, algumas delas viriam a integrar, mais tarde, os corpos sociais do Instituto.

Em 1965, e para ajudar a arrecadar receitas para a instituição, foi inaugurado o Cinema do Terço, no anexo do edificio principal. Inicialmente, funcionava ao ar livre no Verão. Mas, com a grande afluência do público e as verbas recolhidas pela instituição, o cinema tornou-se numa sala coberta com 700 lugares. Este cinema foi, durante várias décadas, o principal suporte financeiro do Instituto, que também recolhia donativos e apoios de particulares. 




Este cinema viria a encerrar em 2003 e, posteriormente, foi demolido em 2010 para dar lugar a um pavilhão polidesportivo e um parque de estacionamento.

Em 2003, Mário Dorminsky afirmou numa entrevista que “assistir a um filme e namoriscar, no intervalo, no jardim do Terço, era tão natural como ir beber um café ao ‘Pereira’ e passear no jardim do Marquês”. 


Fontes:

- http://cinemaaoscopos.blogspot.com/2013/03/cinema-do-terco-porto.html

- https://www.jpn.up.pt/2013/05/19/porto-era-uma-vez-um-cinema/

- https://www.publico.pt/2009/01/06/jornal/parque-de-estacionamento-e-pavilhao--desportivo-vao-substituir-cinema-do-terco-290328

- https://www.facebook.com/media/set/?vanity=276326519430448&set=a.357042654692167

- http://monumentosdesaparecidos.blogspot.com/2013/05/instituto-profissional-do-terco-ou.html

- https://porto.taf.net/dp/htmlnode/4855.htm

- https://www.portosecretspots.com/post/historia-pra%C3%A7a-marqu%C3%AAs




Cine-Estudio Terminal - O cinema da estação de comboio do Rossio

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A Estação Ferroviária do Rossio foi inaugurada em Maio de 1890, começando a funcionar um ano depois, em junho de 1891.

A autoria do projecto desta estação foi de José Luís Monteiro, Mestre de Arquitectura da Escola de Belas Artes de Lisboa. Foi imposto pela Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, que o edificio fosse uma adaptação de valores nacionais com as produções artísticas oitocentistas. Este projecto, de inspiração neo-manuelina, compreendia uma série de detalhes artísticos que tornaram singular esta estação, nomeadamente: a Torre do Relógio, os arcos  das portas centrais, as colunas de iluminação, a cobertura de ferro e a sala do rei.


Ao longo de 130 anos, este espaço foi sofrendo alterações, algumas visando adequar o serviço ferroviário às novas tecnologias, outras adaptando-o às novas solicitações. Na década de 1940, perante o desajustamento entre a solene fachada e as exíguas instalações interiores, esta estação foi remodelada, através de um projecto do Arqt.º Cottinelli Telmo (o realizador do filme "Canção de Lisboa"), que modificou o átrio, as bilheteiras e os acessos aos cais.

Em 1958, foram acrescentado, no lado nascente da gare, 13 painéis de azulejos figurativos, concebidos para funcionarem com anúncios publicitários da Exposição do Mundo Português em 1940, criados por Lucien Donnat e Amara. Este mesmo espaço foi classificado pelo IPPAR, como "Imóvel de Interesse Público" em 1971.

Em Dezembro de 1977, foi inaugurado, nos seus pisos intermédios, o Centro Comercial do Rossio, cujo projecto foi da autoria do Arqt.º José Carlos Loureiro. Este espaço era arrojado e inovador para a época, contando com cerca de 100 lojas e cinema.

Anúncio do C.C. Terminal - Diário de Lisboa de 16.12.1977

E agora, chegamos ao que mais interessa... ao cinema que estava inserido neste centro comercial. Chamava-se Cine-Estudio Terminal e teve algum sucesso durante as décadas de 1970 e 1980, tendo encerrado as portas em 1990, devido ao declinio generalizado de público nos cinemas da capital.

Anúncio do Cine-Estudio Terminal - Diário de Lisboa de 16.12.1977

De acordo com o defunto matutino "Diário de Lisboa", este cinema possuía uma sala simpática, acolhedora, sobriamente decorada e com 295 cadeiras muito cómodas, distribuídas por filas em degraus. O filme inaugural deste cinema foi "Um Cádaver de Sobremesa" (1976), realizado por Robert Moore e interpretado por Peter Falk (o eterno Detetive Colombo), Peter Sellers e Alec Guiness. Inicialmente, este cinema teve 7 sessões diárias, a começar às 10:00h e a terminar às 24:00h. O sistema de projecção, completamente automático, era fornecido pela Phillips. O mesmo jornal referiu: "(...) Uma nova sala de cinema que vem confirmar a expansão de um novo grupo exibidor com capitais, ao que dizem, moçambicanos. Depois do ABCine, aquele grupo adquiriu a Astória Filmes, alugou o Mundial e o Alvalade e abriu, agora, o Terminal".

De referir que este cinema exibiu grandes sucessos de bilheteira, como "Kramer Contra Kramer", que esteve em cartaz no mesmo durante 30 semanas em 1980!



Infelizmente, este cinema acabou por encerrar portas em 1990, devido à baixa afluência do público aos cinemas lisboetas, seguindo os passos de outros que desapareceram na mesma altura (Eden, Estúdio 444, etc.). O próprio Centro Comercial viria a encerrar também em 1994, quando a estação foi novamente remodelada.



Fontes:

- https://www.ocomboio.net/PDF/refer/refer_exporossio_catalogo.pdf

- https://www.visitarportugal.pt/lisboa/lisboa/santa-maria-maior/estacao-rossio

- http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06828.178.28017#!19

- https://biclaranja.blogs.sapo.pt/lisboa-com-aquela-luz-1322739

- https://arquivos.rtp.pt/conteudos/encerramento-do-centro-comercial-do-rossio/

Cine-Estudio 222 - Catedral do Cinema Independente

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Continuando pela cidade de Lisboa, chego à Avenida Praia da Vitória, nº 37, junto à Praça do Saldanha, onde ainda se encontra (pelo menos a marquise) o Cine Estudio 222.

Este espaço abriu as suas portas em Agosto de 1979, inserido numa pequena galeria comercial com poucas lojas e em forma de corredor, que dava acesso às escadas que conduziam ao cinema. Mais um exemplo de uma sala de cinema que ficava numa cave de um prédio habitacional, tão em voga na década de 1970. O filme inaugural foi "Uma Razão para Viver" (1978), realizado por Joseph C.Hanwright e interpretado por Burt Young.

Tinha uma particularidade urbana: o painel que se sobressaía da fachada e que divulgava em letras garrafais o seu nome.

Era um espaço de pouca relevância comercial, apesar da sua localização bastante central, devido ao facto de estar muito associado à exibição de filmes de Bollywood durante muitos anos, muito direccionado para um determinado nicho de público.

Quando este espaço surgiu em 1979, funcionou como um cinema normal, e até teve sucessos de exibição, como o filme "Kramer Contra Kramer", que esteve em cartaz neste cinema durante 27 semanas. Contudo, com o aparecimento dos multiplexes, a gerência foi obrigada a criar uma filosofia diferente, porque não dava para competir com as grandes salas. Importava criar uma verdadeira alternativa, de modo a cativar os espectadores.

Para o gerente deste cinema, Dhimante Cundanlal, a sua designação surgiu por acaso, não se sabendo bem como apareceu. Poderia ter alguma conotação com o número de lugares da sala. 

Quis diferenciar este cinema de outros, através de ciclos de filmes. Também foram importantes as parcerias estratégicas, nomeadamente a efectuada com a Associação "Zero em Comportamento", responsável pelo bem sucedido IndieLisboa, entre 2001 e 2003. Esta entidade era responsável pela programação da sala nos dias úteis. Esta parceria foi frutifera e este cinema teve lotações esgotadas com os ciclos a cargo desta associação, chegando perto dos 80.000 espectadores. 

É de salientar que, à 4ª Feira, eram exibidas curtas metragens.

Com uma comunicação eficaz, que incluía uma apresentação presencial antes do filme se iniciar, e com ciclos temáticos muito originais (que voltaram a exibir filmes que já não era, vistos há muitos anos ou que eram inéditos), esta associação transformou este cinema num local de culto, que captava a atenção de cinéfilos de todas as idades, especialmente os universitários que alargavam o seu conhecimento sobre a história do Cinema. No entanto, a partir de 2003, já era vísivel a degradação desta sala e a vontade desta entidade em procurar outras parcerias e seguir com outros projectos, acabando por sair deste cinema.

A gerência era responsável pela programação ao fim-de-semana, constituída por filmes indianos, na sua versão original e que vinham directamente de Londres. Alguns já tinham legendagem em inglês. Este cinema tentou agregar no mesmo espaço as 3 comunidades indianas que residiam em Lisboa (hindu, muçulmana e ismaelita) e, desde o final da década de 1990 e o início da década de 2000, que funcionou como ponto de encontro e de divugação da cultura indiana. Assim, a gerência poderia comprar os filmes, fazer a sua legendagem e projectá-los para uma sala pública.

Este cinema funcionou, até 2005, quando fechou portas para serem feitas obras na cobertura do telhado, processo que ficou parado (pelo menos até 2012) à espera da decisão do tribunal sobre o apuramento de responsabilidades. Sem estas obras, a C.M.Lisboa não emitiria a licença de utilização do espaço. 

Actualmente, quer o cinema, como a galeria comercial encontram-se encerrados (pelo menos, conforme a imagem seguinte).


Fontes:

- SILVA, Ricardo Oliveira (2012) "O Cinema e a Televisão Sob o Signo da Identidade: Bollywood e as Fronteiras da

Modernidade Indiana, na Cidade de Lisboa". Departamento de Antropologia do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa.

- https://museudoscinemas.wordpress.com/2021/04/05/cine-estudio-222-1978-2003/

- https://www.ruadebaixo.com/cine-estudio-222.html

- https://jornalismoaudiovisual.wordpress.com/2013/02/12/os-cinemas-que-lisboa-nao-ve/estudio-222/

- http://industrias-culturais.blogspot.com/2006/12/os-pequenos-centros-comerciais.html

Podcast "Cinemas do Paraíso" - Episódio 1: Música no Coração (1965)

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Olá a todos!


Este blogue tem um podcast oficial!

Oiçam o primeiro episódio dedicado ao sucesso de bilheteira de "Música no Coração" em Lisboa. 

Espero que seja do vosso agrado!!


 Episódio 1 - Música no Coração


Podcast "Cinemas do Paraíso" - Episódio 2: Kramer Contra Kramer (1979)

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 Olá a todos!


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Oiçam o segundo episódio dedicado ao sucesso de bilheteira de "Kramer Contra Kmaer" em Lisboa e no Porto. 

Espero que seja do vosso agrado!!

Episódio 2 - Kramer Contra Kramer


Podcast "Cinemas do Paraíso" - Episódio 3: A Guerra das Estrelas (1977)

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Olá a todos!


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Oiçam o terceiro episódio dedicado ao filme "A Guerra das Estrelas".


Espero que seja do vosso agrado!!


https://anchor.fm/cristina-tom/episodes/Episdio-3---A-Guerra-das-Estrelas-e192vg5


Podcast "Cinemas do Paraíso" - Episódio 4: Vitória em Entebbe (1976)

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 Olá a todos!


Oiçam o quarto episódio dedicado ao ataque bombista perpetuado no Cinema Berna em 1977, graças à exibição do filme "Vitória em Entebbe".


Espero que seja do vosso agrado!!


https://anchor.fm/cristina-tom/episodes/Episdio-4---Vitria-em-Entebbe-e1ag59j

https://open.spotify.com/episode/6SH7DLPUF54W1xo0GKbLkQ

Cinema Restelo - O cinema da zona residencial de Belém

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Continuando por Lisboa, a paragem faz-se em Belém, onde outrora existiram dois cinemas: o Belém Cinema (http://cinemasparaiso.blogspot.com/2015/09/belem-cinema-uma-zona-ligada-ao-cinema.html) e o Cinema Restelo.


O Cinema Restelo localizava-se na Avenida Torre de Belém, entre a zona de Pedrouços e o Bairro Residencial da Encosta da Ajuda. A sua construção teve como ponto de partida o plano urbanistico da Encosta da Ajuda de 1938, da autoria de Faria da Costa, concebido a pretexto da Magna Exposição do Mundo Português, que se iria realizar em 1940.

Este plano pretendia abarcar um conjunto de serviços e zonas, que o tornassem quase autónomo. Entre estas zonas, estava a proposta de construção de um centro cultural, destacando-se com este equipamento dos restantes bairros até à data construídos. Contudo, tal como fora o caso deste e de muitos outros equipamentos que tomaram forma apenas no imaginário de quem os pretendia construir, não foi realizado.

Assim, no local onde seria construído o centro cultural, foi edificado o Cinema Restelo, que abriu as suas portas, em plena época do Carnaval, no dia 26 de fevereiro de 1954, colmatando o vazio deixado pela extinção do Belém Cinema. O filme inaugural foi "O Capote".

Anúncio do filme inaugural

Carlos João Chambers Ramos e Carlos Manuel Ventura de Oliveira Ramos foram os arquitectos responsáveis pelo projecto, encomendado pela Sociedade Cinema Restelo, Lda., e que foi pensado e projectado para satisfazer as necessidades de quem residia neste bairro. Foi traçado segundo linhas simples e modernas que respeitava os alinhamentos do bairro, adequando-se ao local de sua implantação. Isso era perceptível na concepção do edificio, particularmente no traçado  da sua vasta plateia com 844 lugares, que se dividia em dois sectores através de um ligeiro desnível, e do seu pequeno balcão desenhado para 416 espectadores. A 2ª plateia ficava mais próxima do ecrã, possuía cadeiras de pau e os bilhetes eram mais baratos. A 1ª plateia situava-se num nível mais elevado e possuía cadeiras estofadas e bilhetes mais caros. Contudo, os bilhetes mais caros eram do balcão, especialmente as primeiras três filas que eram as mais espaçosas.





Embora tenha sido construído com o intuito de ser frequentado por todos os habitantes da zona, e porque na altura os indicadores sobre as necessidades da população eram intuitivas, a divisão por sectores do espaço interior do cinema não era igualitária, à semelhança do que acontecera com o Cinearte, construído segundo três categorias de lugares na sala, justificando-se que todas as classes sociais do bairro estariam contempladas no seu traçado. Contudo, rapidamente se verificou que este principio estava errado, visto que este cinema seria frequentado pelas classes mais pobres económicamente, em detrimento das classes mais abastadas, que preferiam procurar divertimento fora do bairro.

A imprensa da época elogiou este edificio, sublinhando a sua sobriedade, o seu fácil acesso e perfeito enquadramento no bairro. Também exaltou os amplos foyers e o mural alegórico que acompanhava a escada de acesso ao balcão. Mais tarde, a sala seria identificada pelo seu surpreendente candeeiro de vidrinho que, suspenso do tecto, iluminava o recinto, reflectindo a luz em variados desenhos e cores, entretendo assim o público durante os intervalos das sessões de cinema.


Anúncio de 27.02.1954 do Diário de Lisboa

No final da década de 1950, este cinema era frequentado pela população jovem do bairro, uma faixa etária que ia dos 6 aos 20 anos e que preenchia, com gosto, as matinés infantis como também as noites de sábado, para além dos adultos. A população jovem ia para a plateia (a "geral"), enquanto que os adolescentes ocupavam as filas de trás. 




De acordo com algumas memórias de frequentadores, este cinema exibia ás 3ª, 4ª e 5ª feiras filmes diferentes dos do fim-de-semana. Geralmente, os filmes que estreavam no Cinema São Jorge acabavam por ser exibidos neste cinema. 

Era um cinema de reprise, que possuía um lettering que anunciava a exibição de filmes e suas estreias. Na década de 1970, sofreu obras de remodelação que reduziu a sua lotação para 1052 lugares. Acabou por encerrar em 1989.

Actualmente, no seu lugar encontra-se um moderno edificio que alberga um supermercado "Pingo Doce", uma filial da Padaria Portuguesa e a Entidade Reguladora de Serviços Energéticos.


Fontes: 

ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012

- ABECASSIS, Helena e GUERREIRO, Miguel. Pares e Ímpares - Memórias de um Bairro (1953-2013). Lisboa, Sitio do Livro, Lda., 2013

- FERREIRA, Matilde Ferraz Leal César. O Imaginário e a Imagem da Avenida da Liberdade. Lisboa, FAUL, 2015

https://restosdecoleccao.blogspot.com/2016/05/cinema-restelo.html

https://www.facebook.com/groups/116519358326/

- http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06522.060.14006

Podcast "Cinemas do Paraíso" - Episódio 5: Os Salteadores da Arca Perdida (1981)

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Oiçam o quinto episódio dedicado ao grande sucesso de bilheteira de "Os Salteadores da Arca Perdida" entre os portugueses, disponivel no Anchor FM e Spotify.

Espero que seja do vosso agrado!!

https://anchor.fm/cristina-tom/episodes/Episdio-5---Os-Salteadores-da-Arca-Perdida-e1cc4qm

https://open.spotify.com/episode/6pBi53euXSJM9iLf5KIrA0



Podcast "Cinemas do Paraíso"- Episódio 6 : Trinitá, O Cowboy Insolente (1971)

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Oiçam o sexto episódio dedicado ao grande sucesso de bilheteira em Portugal de "Trinitá, O Cowboy Insolente", disponivel no Anchor FM e Spotify.

https://open.spotify.com/episode/4zwXvLRgCJOmOGbaVNoFEK

https://anchor.fm/cristina-tom

Xenon: O Templo do Terror

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Continuando pela cidade de Lisboa, a paragem faz-se na Avenida da Liberdade, nº 9, mais concretamente numa pequena galeria comercial designada de Xenon.

Nessa pequena galeria, na cave, existiu, durante uma década e meia, um pequeno cinema com o mesmo nome. Situava-se na cave e era uma pequena sala confortável, com capacidade para 202 pessoas. Para além do conforto, também proporcionava aos espectadores uma boa visibilidade e possuía excelentes condições acústicas, devido à utilização de uma coluna multicelular e um painel de 4 altifalantes, que asseguravam uma potência de 100 watts de saída.

A fita inaugural, a 23 de julho de 1980, foi "A Rapariga de Ouro", realizada por Joseph Sargent, que contava a história de um médico neo-nazi, que tenta transformar a sua filha numa super atleta, por forma a que esta ganhe os Jogos Olímpicos.

Retirado do blogue "Jorge's Dark Place"

Retirado do Diário de Lisboa de 24.07.1980

De acordo com Jorge Tomé Santos, autor do excelente blogue "Jorge's Dark Place" e um grande aficionado do cinema de terror, o Xenon iniciou a sua carreira com uma programação normal, exibindo filmes como "Glória" de Jonh Cassavetes e "Sybil", com Sally Field. Contudo, a 5 de novembro de 1980, este cinema descobriu a sua vocação, ao começar a exibir filmes de terror. Foi nesse dia que estreou "O Nevoeiro", filme de John Carpenter que se manteve em exibição nesta sala durante 12 semanas. Aliás, grande parte dos filmes de de Carpenter foram exibidos neste cinema.

Retirado do blogue "Jorge's Dark Place"

De repente, os responsáveis pela programação deste cinema aperceberam-se da existência de um público ávido por emoções fortes e, devagarinho, começaram a estrear filmes dentro deste género, como o mencionado "O Nevoeiro", passando por "Olhos Assassinos", "Chamada Misteriosa", "Inferno", "Noite Fatal", "Terror no Hospital", "O Elevador", entre muitos outros.

Retirado do blogue "Jorge's Dark Place"

Retirado do blogue "Jorge's Dark Place"

Retirado do blogue "Jorge's Dark Place"


No entanto, a programação começou a decair de qualidade, com a exibição de filmes eróticos, como "11 Dias, 11 Noites", aliados a filmes de terror duvidosos, como "Pássaros Assassinos", "A Floresta Maldita", entre outros. Fãs do cinema de terror e o público em  geral começou a afastar-se deste cinema, que fechou portas em Fevereiro de 1996, com o filme "O Novo Pesadelo de Freddy Krueger", de Wes Craven.

Atualmente, este cinema funciona como igreja pentecostal, muito longe da sua anterior e mais famosa função.



Fontes:
- http://jorgesdarkplace.blogspot.com/2014/06/cinema-xenon-o-templo-do-terror.html
- http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06833.183.28806

Cinemas do Paraíso: Viana do Castelo

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Em plenas férias, resolvi visitar a belissíma cidade de Viana do Castelo. E, como é óbvio, essa visita merece um post sobre os cinemas que existiram e existem nesta cidade.

Inicio este post com a história do Cinema Palácio, o primeiro cinema construído para o efeito em Viana do Castelo. Foi inaugurado a 30 de setembro de 1950 e funcionou durante 40 anos, até fechar portas por volta de 1990. Foi uma importante sala de cinema em todo o Concelho de Viana.

Em 1997, o edificio foi reconvertido em espaço comercial e escritórios, passando a designar-se "Edificio Palácio", tendo sido somente preservadas as fachadas originais sobre a Rua de Aveiro e Avenida Rocha Páris.


O 2º cinema a ser abordado neste post, e que funciona ocasionalmente como a casa das sessões de cinema promovidas pela Associação de Promoção e Animação Audiovisual "AO NORTE", chama-se Verde Viana e encontra-se localizado no Centro Comercial 1º de Maio, situado na praceta com o mesmo nome. Este centro comercial abriu portas em 1989 e, actualmente, encontra-se ao abandono, com a maioria das lojas desactivadas. O cinema tem a lotação de 134 lugares.



Por fim, vou falar do Cineplace Viana Shopping, situado no piso 0 da Estação Viana Shopping. Estas salas de cinema são geridas pela Sonae Sierra e pela empresa brasileira, Grupo Orient.





Fontes:

- https://www.olharvianadocastelo.pt/2016/09/palacio-o-primeiro-cinema-de-viana-1950.html

https://www.facebook.com/olharvianadocastelo/photos/a.355974311169789/2796119290488600/?type=3

- https://www.allaboutportugal.pt/en/viana-do-castelo/cultural-centers/cinema-verde-viana

Em exibição... 25 de abril de 1974

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Querem saber quais os filmes que estavam em exibição em Lisboa no dia 25 de abril de 1974? então vejam este vídeo e recordem as salas de cinema existentes na época. Muitas delas já desapareceram, poucas delas sobreviveram.

Cinemas do Paraíso: Vila Nova de Milfontes

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Faleceu, nesta semana, António Feliciano Inácio, com 83 anos. Foi um homem que agiu em prole da população de Odemira, Alentejo e até mesmo do país, enquanto agente da cultura e projeccionista de cinema. Foi um homem que amou profundamente o cinema e a sua divulgação.

Natural de Saboia, António Feliciano Inácio, despertou muito cedo para o cinema, projectando filmes junto das comunidades locais, bem como nos lugares mais longínquos, por forma a que todos pudessem ter acesso ao cinema. Foi graças a este homem que milhares de habitantes do Concelho de Odemira viram o cinema pela 1ª vez.

Começou a projectar filmes em 1963 em vilas e aldeias, anunciando pelos altifalantes da sua carrinha o filme que ia ser exibido. Nestes locais, era um momento de celebração, visto que não existiam televisores ou cinemas por perto, muito menos vídeo ou internet.  As Casas do Povo e Associações Recreativas enchiam-se para ver os filmes.

Começou como ajudante de um projeccionista de cinema ambulante e seguiu esta carreira por mais de 58 anos, sendo um dos últimos da sua profissão a operar no país e no continente europeu. Numa entrevista a um jornal, ele afirmou que aos 4, 5 anos já andava atrás da carrinha que levava cinema ambulante a Saboia.

Fundou o Cineteatro Girassol, localizado na Rua Custódio Vaz Pacheco, em Vila Nova de Milfontes, uma das primeiras salas de cinema do Concelho de Odemira. Com capacidade para acomodar 278 pessoas, este cinema esteve integrado em várias iniciativas culturais do Concelho de Odemira. 


Cinema Girassol, 1990


Em 2008, a Fundação Odemira organizou um festival para promover o cinema no Concelho, tendo sido destacada este cineteatro, que era considerado como uma entidade cultural emblemática do Concelho. Francisco Antunes, Presidente da Comissão Executiva da Fundação e da Escola Profissional de Odemira, classificou António Feliciano Inácio como "um dos mais carismáticos projeccionistas ambulantes do país", quando este levava sessões de cinema às aldeias, recordando o período em que Cinema Girassol funcionou ao ar livre.

Também fundou uma sala de cinema em Saboia. Foi agraciado com a Medalha Municipal de Mérito do Concelho de Odemira em 2006.

Para além das sessões de cinema, também albergou outros tipos de eventos como "Festival Internacional de Guitarras de Milfontes" em 2013.

A sua história foi contada em diversos jornais e media de todo o mundo, nomeadamente num documentário ficcionado de Rosa Coutinho Cabral, intitulado Cães sem Coleira, em 1997.

Em 2016, a banda "Os Azeitonas" publicou o single Cine Girassol, homenageando António Feliciano Inácio. O argumento deste vídeo é da autoria de Nuno Markl.


O cinema perdeu esta semana um dos seus maiores entusiastas... RIP António Feliciano Inácio.


Fontes:

https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=pfbid038EDWJgWkEiCLtSx69fs3eBo8NCqnYH9H1p9xWpReWUg9d6ppju3f4RQgMT6d5UXQl&id=100064824035411

https://www.facebook.com/photo?fbid=530419045795559&set=a.460732786097519

http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/SIPA.aspx?id=10747

- https://pt.wikipedia.org/wiki/Cinema_Girassol



Star: O Cinema do Conforto

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De volta a Lisboa, vou recordar um pequeno cinema que existiu na cosmopolita Avenida Guerra Junqueiro, n.º 14... de seu nome STAR.

Na década de 1960, a lei permitiu que edificios de habitação pudessem incluir outros espaços, com fim distinto, nomeadamente salas de cinema. O Arqt.º Henrique V. de Figueiredo conseguiu colocar em prática esta intenção, ao traçar um bloco de apartamentos e uma sala de cinema, que se situava na cave do prédio, embora a entrada fosse feita no rés-do-chão. O projecto contemplava, igualmente, um átrio, ao nível da rua, e dele se descia para a sala através de uma escadaria, carregada de mistério, que conduzia o espectador para um espaço pouco visível. No exterior, uma enorme caixa de alumínio e vidro assinalava a presença do recinto, bem como um lettering com o nome do cinema. Foi assim que surgiu o Estúdio 444 em 1966, precedido pelo Cinema Mundial em 1964, o Cinema Vox em 1968, o Cinebolso em 1975, o Cinema Nimas em 1975, o Cine Estúdio 222 em 1979, o Cinema Zodíaco em 1979, bem como o cinema Star em 1976.

O cinema Star foi inaugurado, presume-se, em Maio de 1976, de acordo com a publicação do Diário de Lisboa dessa altura.

Publicado no suplemento "Sete Ponto Sete", do Diário de Lisboa de 08.05.1976

Presume-se que o filme inaugural tenha sido "Meu Irresistível Selvagem", película francesa dirigida por Jean Paul Rappeneau e protagonizada por Yves Montand e Catherine Deneuve. Esteve em exibição neste cinema durante 12 semanas.



Este cinema, cujo projeto arquitectónico foi da autoria de Ramos Chaves, aproveitou o espaço de um antigo stand de automóveis, o Stand Casquilho.

Cinema Star - 1977 (Arquivo Municipal de Lisboa)

De realçar o pormenor da calçada, onde se encontrava gravado o nome do cinema junto à sua entrada.

De acordo com Óscar Casaleiro, autor do excelente blogue "Museu dos Cinemas" e assíduo frequentador deste cinema, se houvesse um campeonato das salas de cinema mais confortáveis, esta seria a vencedora. As poltronas eram macias e repletas de conforto, tornando-se na imagem de marca deste cinema. A entrada era muito ampla e possuía uma escadaria de acesso à sala de cinema, que ficava no piso inferior. Um painel promocional circundava a zona superior do cinema, anunciando o filme, as horas das sessões e o número de semanas que o filme estava em cartaz. Era inegável... quem passava por aquela avenida, sabia que existia ali um cinema.

Destaca-se, igualmente, a boa inclinação, a visibilidade e a decoração do tecto, constituído por pedaços de várias formas suspensas, que conferiam à sala uma coerência estética belíssima. 

Houve diversos filmes que fizeram longa carreira de bilheteira neste cinema, nomeadamente: "O Hotel da Praia" (15 semanas em 1978), "O Segredo de Fedora" (16 semanas em 1979), "Um Casamento Muito Original" (17 semanas em 1980), "O Meu Tio da América" (16 semanas em 1981), "Uns... e Outros" (41 semanas em 1981/1982), "Os Deuses Devem Estar Loucos" (32 semanas em 1982/1983), "A Educação de Rita" (21 semanas em 1984), "Gente Gira" (23 semanas em 1984/1985), entre outros. Também foram exibidos neste cinema, filmes como "Nove Semanas e Meia", "Caça ao Outubro Vermelho", "Ghost - O Espírito do Amor", "O Silêncio dos Inocentes" e "Thelma e Louise".












Em 1992, e de uma forma imprevista, este cinema acabou por fechar as suas portas, muito por culpa da especulação imobiliária, do aparecimento dos centros comerciais e da fraca adesão dos espectadores às salas de cinema. Graças à amável cedência destas fotografias ao blogue "Museu dos Cinemas", por parte de Frederico Corado, é possível contemplar como era este espaço.






Transformou-se numa loja Marks & Spencer e, actualmente, é uma loja VIVA, dedicada à venda de artigos para casa. Olhando para a fachada actual, não existe qualquer vestígio de que, outrora, existiu um cinema neste espaço. Resta a memória dos amantes e frequentadores deste cinema.


Fontes:

ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012

Diário de Lisboa de 08.05.1976

https://museudoscinemas.wordpress.com/2020/11/02/cinema-star-1977-1992-o-rei-do-conforto/

https://museudoscinemas.wordpress.com/2023/01/09/o-fim-do-cinema-star/



Cinemas do Paraíso: São Bartolomeu de Messines

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A viagem pelas memórias das antigas salas de cinema do país leva-nos ao Algarve, mais concretamente a São Bartolomeu de Messines.

Tudo começa com a invenção do cinematógrafo pelos irmãos Lumiére, em Paris, no final do século XIX. Esta invenção originou o cinema e a sua primeira exibição teve lugar na mesma cidade em 1895, expandindo-se rapidamente para o resto do mundo, nos anos seguintes.

A primeira exibição cinematográfica decorreu em Faro, no Teatro Lethes, a 11/09/1898, devido à circulação ferroviária que permitiu a chegada rápida das tecnologias.

São Bartolomeu de Messines, com a sua estação própria nas imediações da aldeia, também beneficiou com os prodígios dessa facilidade de comunicação. As primeiras sessões de cinema foram esporádicas, ocorrendo em animatógrafos ambulantes, ao ar livre, como por exemplo no Largo da Pontinha.

Contudo, no final da década de 1920, a criação de um cinematógrafo fixo na vila ganhou preponderância, devido a um notável incremento comercial e industrial que a própria vivia.  Assim, em Julho de 1930, a imprensa regional afirmava que estava para breve a conclusão de um "belo edificio destinado ao cinema e teatro". No entanto, alguns atrasos no licenciamento adiaram a sua inauguração para 17/11/1930. 

Assim nasceu o Cine-Teatro João de Deus na Rua Dr. António Neves Anacleto, promovido por Arlindo Guerreiro Santana. A sala deste cinema era iluminada a eletricidade (a partir de um motor Junkers, com dínamo), e tinha capacidade para 568 espectadores. "A Hora Suprema" foi o primeiro filme exibido.

Este cinema revelou-se um enorme sucesso, atraindo muitos cinéfilos das freguesias vizinhas e do Baixo Alentejo, promovendo a organização de carreiras especiais nos dias de sessão, normalmente ao Domingo. A máquina projectora era desmontável, levando Arlindo a diversas povoações do Algarve. A 26/05/1032, estreou o cinema sonoro com a película "Anny no Music-Hall".

No início da década de 1940, este cinema foi vendido aos irmãos Inocêncio e Domingos Matias. Em 1970, José Inácio Martins, o novo proprietário do espaço, empreendeu a sua demolição devido às fracas condições do mesmo. Um novo cinema foi construído e inaugurado a 08/03/1972, conjuntamente com o Jardim-Escola João de Deus.

O novo cinema, composto por plateia e balcão, apresentava uma óptima visibilidade e excelente condições acústicas e tinha perto de 400 lugares. Tal como o cinema anterior, este novo espaço teve um enorme sucesso, atraindo não só cinéfilos da freguesia, como também de outros concelhos. 

Esta sala não foi utilizada somente para projecções. Em Janeiro de 1947, a população de S. Bartolomeu de Messines recebeu, de forma apoteótica, João de Deus Ramos, filho do poeta João de Deus, para assistir à conferência integrada no programa das edificações dos "Jardins-Escolas João de Deus".

Foi neste espaço que ocorreu a sessão solene de elevação da aldeia à categoria de vila a 02/03/1973. 

Fotografia de Fernando Gonçalves (1975) - Facebook "Regresso ao Passado"

Apesar de alguns interregnos, este cinema reabriu a 19/07/2018, tendo sido sujeito a obras de remodelação.




Fontes: 

- http://www.terraruiva.pt/2021/03/27/o-cine-teatro-joao-de-deus-em-sb-messines-90-anos-de-historia/

- http://www.terraruiva.pt/2018/07/14/cinema-de-messines-vai-reabrir/

- Facebook "Regresso ao Passado" - https://www.facebook.com/photo/?fbid=2309043409270898&set=g.273605916390111

- https://www.facebook.com/people/Cine-Teatro-Jo%C3%A3o-de-Deus/100054239571699/?locale=pt_BR

- https://www.portugalist.com/messines/

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